10 dias de COP30 Amazônia
- Gaia

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Nos 10 dias da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) em Belém (Pará, Brasil), surgiram várias iniciativas importantes para impulsionar a implementação da agenda climática. Esses dias foram marcados por lançamentos estratégicos, compromissos financeiros, mobilização social e tensões políticas. Entre tantas discursos, fica a promessa agridoce, de um futuro que nem todos compartilham.
Os EUA não mandou um embaixado para a COP30, o que pode influenciar negativamente a influência de diversos players no mercado. Sob o governo Trump, as emissões de carbono nunca foram tão incentivadas, fica claro a falta de compromisso ambiental do país. A China por outro lado foi um grande player que além de participar, mandou um presente para o Brasil: Uma estátua de bronze do Espírito Guardião Dragão-Onça feita pela artísta Huang Jian.
Houve muitos manifestos indígenas e problemas de segurança durante os 10 dias do evento. O próprio presente da ONU chegou a enviar uma carta quando a COP30 foi invadida por manifestantes em um dos dias, o que chamou atenção para falta de organização e infraestrutura do local. Apesar de tudo, ela tem sido chamada de “COP da Implementação”: uma conferência voltada para transformar compromissos em ações concretas.

10 de novembro (Segunda-feira)
Tema: A COP30 abriu oficialmente com a adoção rápida da agenda da conferência, sinalizando um forte consenso entre os países.
O embaixador André Corrêa do Lago foi eleito presidente da COP30, reforçando o papel brasileiro na condução desta edição.
A tecnologia ficou em evidência como ferramenta de adaptação: lançou-se o Green Digital Action Hub, uma plataforma para facilitar inovação climática por meio de dados e cooperação digital.
Também foi anunciado o AI Climate Institute, com o objetivo de capacitar países em desenvolvimento para usar inteligência artificial em ações climáticas, com modelos de IA adaptados a contextos locais.
Na agricultura, houve compromissos da Fundação Gates para investir em inovações para agricultores vulneráveis. Segundo a síntese, US$ 1,45 bilhão é destinado para apoiar adaptação de pequenos agricultores em regiões como África Subsaariana e Sul da Ásia.
No âmbito da adaptação financeira, o Fundo para Resposta a Perdas e Danos (Loss & Damage) foi operacionalizado e lançou seu primeiro edital com US$ 250 milhões.
Bancos multilaterais de desenvolvimento (BMDs) reforçaram seu aporte para adaptação, com mais de US$ 26 bilhões direcionados para países de baixa e média renda em 2024, segundo os organizadores da COP30.
Também foi reafirmado o compromisso social-climático por meio da Declaração de Belém sobre Fome e Pobreza, apoiando a criação de uma parceria para proteção social resiliente ao clima e financiamento da agricultura familiar.
Um “Studio de Inteligência da Natureza” foi anunciado, para promover inovações inspiradas na biodiversidade — por exemplo, usando modelos biológicos para resolver desafios energéticos.
Reflexão: o primeiro dia já deixou claro: essa COP quer traduzir discursos em ações concretas, especialmente por meio da tecnologia e da cooperação digital.
11 de novembro (Terça-feira)
Tema: ação local e subnacional. O segundo dia reforçou que cidades, comunidades e governos locais são cruciais para transformar compromissos em resultados reais.
Lançada a campanha “Beat the Heat Implementation Drive”, em parceria com a UNEP e a Cool Coalition. A meta é proteger 3,5 bilhões de pessoas em 185 cidades do calor extremo, por meio de ações como soluções naturais e construção adaptada.
Foi lançado o Plano para Acelerar a Governança Multinível (PAS), por meio da CHAMP (Coalizão para Parcerias Multinível de Alta Ambição), para integrar a implementação climática local às metas nacionais. Brasil e Alemanha foram anunciados como copresidentes dessa iniciativa.
No setor de construções, a Buildings Breakthrough Initiative avançou com normas para edificações de baixas emissões e mais resiliência climática.
No tema resíduos, a iniciativa No Organic Waste (NOW) foi assumida: compromisso de reduzir 30% das emissões de metano de resíduos orgânicos até 2030; recuperar alimentos excedentes; integrar trabalhadores do setor de resíduos à economia circular.
Em relação à água, foi lançado o Programa de Investimento em Água para a América Latina e Caribe, com previsão de US$ 20 bilhões até 2030 para segurança hídrica e resiliência.
Também houve uma Declaração Conjunta sobre Água e Ação Climática, na mesa ministerial “Águas da Mudança”, reafirmando a água como pilar central da adaptação global.
No encerramento do dia, ocorreu uma plenária ministerial “mutirão”: ministros e prefeitos de mais de 80 países destacaram a importância da governança local para o cumprimento do Acordo de Paris.
Tensão social: surgiram protestos de povos indígenas. Segundo reportagens, na noite do dia 11 dezenas de manifestantes indígenas tentaram invadir a Blue Zone (área reservada para negociadores), gerando confronto com a segurança.
12 de novembro (Quarta-feira)
Tema: saúde, emprego, educação, cultura, justiça, direitos humanos e trabalhadores. Segundo a síntese noturna, a COP30 reforçou que a transição climática deve estar centrada nas pessoas.
Foi lançada a Global Initiative on Jobs & Skills for the New Economy, unindo governos, empresas e sociedade civil para promover emprego e capacitação no contexto da economia de baixa emissão.
Esse relatório estimou que a transição climática pode gerar centenas de milhões de empregos nos próximos anos, especialmente em atividades de adaptação e economia verde.
A adaptação indígena foi destacada: houve evento para dar visibilidade ao conhecimento ancestral, e novos financiamentos foram anunciados para projetos liderados por povos indígenas.
Um tema novo entrou fortemente na agenda: integridade da informação. Foi lançado um esforço global para combater desinformação climática e garantir que a narrativa sobre a crise climática seja baseada em evidência.
No setor de compras públicas, a UNIDO/IDDI apresentou um plano para usar a contratação pública como motor da transição justa, priorizando materiais de baixo carbono, trabalho justo e cadeias sustentáveis.
Cultura e narrativa foram celebradas: painéis de arte, histórias indígenas e diálogos intergeracionais mostraram como contar sobre a crise climática também é uma ferramenta de transformação.
A Maloca, plataforma digital interativa da COP30, teve sessões focadas em justiça climática, conhecimento tradicional, comunidades e participação global.
13 de novembro (Quinta-feira)
Tema: esse dia reafirmou que a adaptação climática deve proteger a saúde das pessoas. Foi adotado o Belém Health Action Plan (BHAP), em parceria com a OMS, para fortalecer sistemas de saúde resilientes às mudanças do clima.
Instituições filantrópicas comprometeram cerca de US$ 300 milhões para apoiar a implementação do plano de saúde climático por meio da Climate and Health Funders Coalition.
Educação também esteve no centro do debate: uma rodada ministerial organizada com a UNESCO reforçou a importância de “verdes” nas escolas e de incorporar a literacia climática nos currículos.
No tema direitos humanos, sustentabilidade e justiça social, a COP discutiu a relação entre clima e equidade, com atividades como a “Árvore de Pledge Sumaúma” (um símbolo de compromisso coletivo) e chamadas para sistemas legais que respeitem dignidade e igualdade climática.
No plano financeiro, foram discutidas estratégias para mobilizar recursos para adaptação e alerta precoce, por meio de fundos mistos (blended finance) e parcerias entre público e privado.
14 de novembro (Sexta-feira)
Tema: energia, indústria, transporte, comércio, finanças, mercados de carbono e gases não-CO₂, segundo o boletim da manhã da COP30.
Sessão ministerial de destaque: reunião alta sobre o Compromisso Belém 4X, para aumentar (quadruplicar) o uso global de combustíveis sustentáveis até 2035.
Lançamento da Declaração de Belém sobre Industrialização Verde Global, que propõe acelerar a indústria de baixo carbono e a transferência tecnológica para países em desenvolvimento.
Debate sobre a transição de combustíveis fósseis: em mesa de alto nível discutiu-se não apenas o que deve ser feito, mas como avançar para abandonar os fósseis de maneira justa e eficaz.
Aqui ficou claro a importância da redução e mitigação dos Gases de Efeito Estufa. A certificação Carbono Neutro da Gaia é uma solução acessível, que faz o levantamento das emissões de carbono com uma calculado com algorítmos validados, e neutraliza por meio de créditos de carbono as emissões do ano de atividades uma empresa, ou até mesmo de um único evento. Estar na frente, é já buscar esse tipo de iniciativa.
17 de novembro (Segunda-feira)
Final de Semana: Houve a Marcha pelo Clima em 15/11, que reuniu mais de 70 mil pessoas, onde ativistas reivindicaram soluções, que até então não haviam sido propostas na COP30.
Tema: Florestas, oceanos, biodiversidade, povos indígenas, comunidades locais, juventude, PMEs. Alguns destaques:
Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF): foi operacionalizado, um marco importante. Trata-se de um mecanismo de financiamento para florestas tropicais, visando valorizar ecossistemas “em pé”.
Desafio da Bioeconomia: lançado globalmente, com apoio do governo brasileiro, NatureFinance, BID, FAO, WRI, entre outros. A ideia é desenvolver instrumentos, métricas e mercados para uma bioeconomia sustentável.
Coalizão para expansão do JREDD+: nova aliança envolvendo governos, povos indígenas, investidores e sociedade civil para remunerar países ou estados por redução de desmatamento – dando escala à preservação florestal.
Centro Global de Gestão de Incêndios: foi criado dentro da FAO para coordenar prevenção de incêndios florestais, conectando proteção ambiental e ação climática
Investimento para soluções baseadas na natureza: o “Earth Investment Engine” ultrapassou a meta inicial de US$ 5 bilhões e mobilizou mais de US$ 10 bilhões para projetos climáticos naturais.
Compromisso com o metano: o Global Methane Status Report 2025 foi apresentado, mostrando avanços e lacunas. Embora haja progresso, líderes destacaram a necessidade de ampliar medição, relato e financiamento para reduzir emissões até 2030.
Liderança jovem e indígena: diálogos com jovens, povos indígenas e comunidades locais reforçaram a centralidade desses atores na ação climática.
Mensagem simbólica: um discurso do Papa Leão XIV (representado) foi citado em comunicação da conferência, lembrando a “responsabilidade comum” para proteger Gaia e os territórios vulneráveis.
18 de novembro (Terça-feira)
Tema: florestas, oceanos, biodiversidade, povos indígenas, comunidades locais, crianças e jovens, PMEs
A COP reforça a centralidade dos oceanos no debate climático. A pesquisadora e bióloga Marinez Scherer, enviada especial para o tema, destacou que ecossistemas marinhos saudáveis são vitais para regular a temperatura planetária: os oceanos absorvem cerca de 90% do calor da Terra, e capturam parcela significativa de CO₂.
A “Síntese Diária” mostra que foram debatidas estratégias para proteger a biodiversidade marinha, restaurar zonas costeiras e fortalecer a participação das comunidades tradicionais na governança de oceanos e florestas.
Também se discutiu fortemente a regularização fundiária e o papel dos povos indígenas na proteção florestal, reforçando que garantir direitos territoriais é uma peça-chave para a ação climática.
19 de novembro (Quarta-feira)
Tema: agricultura, sistemas alimentares e segurança alimentar, pesca, agricultura familiar, mulheres, gênero, afrodescendentes, turismo.
Anúncios de novos esforços para transformar os sistemas alimentares, com foco em recuperação de terras, equidade de gênero e fortalecimento comunitário
Destaque para a liderança das mulheres: muitas falas e painéis focaram em como mulheres nas zonas rurais enfrentam impactos climáticos e estão desenvolvendo soluções baseadas em evidências para seus territórios
No Brasil, foi reforçado o Protocolo Nacional para Mulheres e Meninas em Emergências Climáticas, demonstrando que a integração de gênero é considerada essencial na construção de resiliência.
Uma declaração importante: o presidente Lula, junto com a ministra Marina Silva e o presidente da COP30 (André Corrêa do Lago), deu entrevista à imprensa, ressaltando a importância da participação social, da justiça climática e do protagonismo dos povos tradicionais
20 de novembro (Quinta-feira)
Destaque em diversos noticiários, como New York Times, Washington Post, Reuters, BBC, Guardian e Le Monde, para a evacuação da COP30 após fogo na Zona Azul às 14h, no Pavilhão da Itália. As chamas forma controladas em cerca de 6 minutos, o que interrompeu as negociações do dia.
Tema: agricultura, sistemas alimentares, pesca, agricultura familiar, gênero, afrodescendentes, turismo.
O dia marcou uma reflexão sobre compromissos já firmados, destacando a necessidade de acelerar a implementação de ações no campo agrícola, especialmente para sistemas de segurança alimentar mais resilientes.
Há atenção especial à justiça racial, já que o dia coincide com o Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. Isso reforça simbolicamente a ligação entre mudanças climáticas, desigualdades históricas e participação de comunidades afrodescendentes nas soluções.
No âmbito da pesca e turismo comunitário, debates abordam como as populações costeiras e tradicionais podem se beneficiar de modelos sustentáveis, promovendo resiliência climática e desenvolvimento justo. (agenda da Green Zone mostra eventos relacionados).
Também há um esforço para consolidar resultados tangíveis em agricultura familiar, vinculando produção local a mercados sustentáveis e estratégias de adaptação climática.
21 de novembro (Sexta-feira / Encerramento)
Tema: Este é o último dia oficial da COP30 segundo a programação da conferência. Embora os boletins diários para esse dia ainda sejam mais escassos, algumas ações e expectativas são claras:
Na programação da Blue Zone, está prevista uma sessão sobre fertilizantes verdes, apontando para a importância de descarbonizar a agricultura por meio de insumos menos poluentes.
Também haverá debates sobre direito internacional e emergência climática, refletindo sobre mecanismos jurídicos globais para dar conta da crise climática.
Outro tema previsto é a mobilização de financiamento climático: há um painel sobre panorama do financiamento e como novos recursos (públicos, privados, mistos) podem sustentar a transição ecológica e a justiça socioambiental.
Na esfera cultural, a programação de encerramento inclui um concerto de Lenine, realizado “em prol do SOS Pantanal”, integrando arte, cultura e agenda ambiental.
Sinais de alerta pelo caminho
Além dos anúncios positivos, a COP30 não está isenta de críticas e riscos, segundo reportagens recentes:
Mobilização subnacional: A COP30 aposta pesado na implementação por meio de cidades e comunidades — as iniciativas lançadas nos primeiros dias reforçam que a ação local será vital para cumprir os objetivos climáticos.
Justiça social: Saúde, empregos e direitos humanos emergem como temas centrais, indicando que esta conferência não é apenas sobre tecnologia, mas sobre equidade e dignidade.
Pressão indígena: Os protestos (como a invasão da Blue Zone por indígenas) mostram uma tensão real entre parte das comunidades tradicionais e a diplomacia climática oficial.
Financiamento: Há compromissos ambiciosos (água, saúde, infraestrutura), mas o desafio será transformar promessas em fluxos reais de recursos — especialmente para os mais vulneráveis.
Transição energética: O dia 14 sugere que a COP já está preparando o terreno para grandes pactos no setor de energia, com foco tanto em combustíveis limpos quanto na descarbonização industrial.
Há uma proposta de roadmap global para abandono de combustíveis fósseis apoiada por mais de 80 países, mas há resistência de nações fortemente dependentes de petróleo e gás.
Um incêndio no penúltimo dia (20/11) chegou a evacuar parte do local da conferência, com 13 pessoas sendo tratadas por inalação de fumaça.
No tema metano, apesar de progresso, a maioria dos compromissos continua voluntária, e há críticas de que o alcance ainda é insuficiente para uma redução robusta até 2030.
Já foram feitas críticas sobre a pegada ecológica da própria COP30, especialmente considerando construções na Amazônia, e preocupações sobre transparência e justiça climática. (essa crítica tem sido levantada por ativistas e observadores).
A COP30 é só o começo…
Entre 17 e 21 de novembro, a COP30 reforça sua cara de conferência de implementação, saindo de promessas para ações. O lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a aposta na bioeconomia, o engajamento de comunidades indígenas, jovens e mulheres, e o foco nos sistemas alimentares apontam para uma COP que busca concretizar soluções climáticas integradas.
No entanto, os riscos persistem: a tensão sobre combustíveis fósseis, a vulnerabilidade da conferência (como mostrou o incêndio), e a escala ainda voluntária de algumas promessas indicam que, para muitos, os compromissos precisam evoluir para mecanismos mais vinculantes.
Se a COP30 for bem-sucedida, poderá deixar um legado concreto para a Amazônia, e reforçar a visão de que florestas, oceanos e justiça social são parte inseparável da luta contra a mudança climática



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